Ecoa no ar uma risada gostosa... A paisagem é esplêndida, ao fundo a ilha do Pati, o mar azulado, o verde da mata e Viviane vermelha como uma amora rindo gostosamente por Miguel ter ficado com uma perna presa na lama e a outra no barco que entortava dando a sensação de virar... Nalva que já vinha muito apreensiva no ônibus escolar que nos deixou no porto, estava pálida como uma uva que ainda não decidiu a sua coloração. Ela apesar de ter nascido na região nunca havia andado de barco.
Ali naquele momento parecíamos crianças, nossas gargalhadas se misturavam a natureza e trazia em mim uma sensação de felicidade indescritível... Acabei sendo a última a descer do barco e não imaginava que também ficaria presa no lamaçal... Aqui onde moro, no Recôncavo Baiano, é uma região de mangue e, eu que jamais tinha vivenciado andar no manguezal, precisei ser socorrida por Eli que pacientemente segurou a minha mão até chegar à praia de maneira segura, pois além de ser muito escorregadia, a lama engolia a minha perna até quase o joelho... E Luciana máquina e sorrisos a postos filmando todo meu “desajeito” no manguezal...
Nessa travessia avisto um búzio me encanto com sua beleza e Rosevânia gentilmente pega para mim. Nem imagino que há nele um hospedeiro e tamanho não foi meu susto quando o bichinho resolveu por a carinha pra fora... Novas gargalhadas, agora era eu o motivo da graça... Cláudia e Neia me explicam que preciso cozinhar para tirar o bicho dali e que é até comestível, mas eu com este coração de manteiga o devolvo ao mar...
Logo que chegamos à escola corremos todos para lavar os pés incrustados de lama e para nossa grande surpresa, logo depois ao adentrarmos na cantina em busca de água para beber, nos deparamos com um verdadeiro banquete, moqueca de peixe e de siri, peixe frito, pirão de banana que estava delicioso e que nunca havia comido, feijão de leite, feijão fradinho, saladas, arroz... E de sobremesa um sorvete de aipim, isso mesmo de macaxeira, feito de mandioca... E todas nós queríamos a receita daquela exótica sobremesa... Estávamos famintos e o mais engraçado de tudo que havíamos levado uma feijoada patrocinada por Eli a Assistente Social do grupo que está indo para outras paragens...
E este feijão andou... viajou... Vadinha e Manuela segurando a grande panela e fazendo todo malabarismo no manguezal quando chegamos à ilha das Fontes, outro local bonito e de uma paz acolhedora, aquela que dar vontade de ficar um “tantinho” mais, porém lá a descida foi muito mais tranqüila e a lama embora escorregadia não engolia os nossos pés... Ao chegar pedimos para ferver a feijoada feita pela nossa colega Marly que no último instante não pode vir, a vida e seus imprevistos... O cheiro espalhou gostoso pelo ar, a fome foi se “achegando”...
Mas, devido o adiantar da hora se fossemos almoçar lá, não conseguiríamos fazer o trabalho na outra localidade e então voltamos para Ferrolho (porto) e de lá embarcamos em outro barco para a ilha do Pati, as mais corajosas resolveram ir de canoa com Sr. Mano que segundo a colega Jusileuza era exímio canoeiro. E lá no lamaçal a dificuldade foi bem maior para carregar o grande caldeirão agora era Carla e Manuela que dançavam pra lá e pra cá para manter o equilíbrio e não derramar o feijão... Carla Monique e Verena não se aguentavam de tanto ri da situação das colegas. Tudo era motivo de riso e graça e com este clima de alegria e descontração o trabalho desenvolvido por todas nós foi simplesmente maravilhoso...
Só podia ser coisa de Vadinha que elogia o prato bonito do senhor já bem idoso que almoça a porta de casa que fica em frente da Escola, e ele gentilmente resolve pegar peixe para ela. Para nossa surpresa e graça a sua esposa chega à porta, mãos na cintura, cara amarrada e dedo em riste dizendo: - “Tou de olho em você. Viu?” Mas, apesar do ciúme declarado de sua mulher, o moço não deixou de lhe trazer o peixe...
Dona Brasília a diretora da Escola logo nos repreendeu por termos levado comida, achou um absurdo imaginarmos que elas não iriam se preocupar com nosso bem estar... E o feijão voltou... E lá vão as meninas se equilibrando com a panela no manguezal... Resolveram voltar na canoa que amarrada ao barco acabou por dar um grande banho em Manuela que de braços abertos me lembrava o Titanic...
Amei as duas instituições... Tudo muito arrumado; pareciam casas de bonecas... Bonito ver nos olhos a alegria de D. Brasília por já ter ali neto de seus primeiros alunos, acredito que toda comunidade tenha passado pelo seu saber... E que gostoso ouvir o relato de seus antigos alunos que contavam o orgulho de ter ali filhos, sobrinhos e netos. A simplicidade daquela gente e a beleza daquele lugar fortalecem em mim a fé no ser humano, pois apesar de tanta coisa negativa que ouvimos e vemos no nosso dia-a-dia ainda temos verdadeiros paraísos, ainda temos pessoas tão verdadeiramente humanas como dessas comunidades...
Lindo o seu relato, tive o desejo enorme de tb ter
ResponderExcluirestado presente neste grande "evento".
São fatos que devem ser narrados para que todos conheçam a real situação da região.A Educação pode chegar a qualquer lugar basta que tenha pessoa com "espírito" educativo e muito boa vontade.
bjssssssssssss