Acordo cedo. E no galpão que ficamos meu colchão ficou posicionado em direção a uma telha de vidro, o que me permite ver a claridade do dia chegando... Algumas pessoas já saíram... Sinto já o cheiro do café, o quarto fica ao lado da cozinha, tudo muito rústico, simples e muito gostoso. Na cozinha temos dois fogões e harmoniosamente as pessoas esperam o espaço desocupar. Aqui não vejo ninguém reclamar de nada, no rosto está visível o ar de felicidade de cada um por estar aqui.
Sempre fiz cuscuz e todas às vezes saiu "comível", mas aqui não trouxe a tapioca e com este fubá tabajara é necessário dar liga na massa, embora Ivetirina faz sem. Acredito que molhei na proporção que molho a massa com a tapioca, então tivemos que comer farofa de fubá... (rsrs) Fiquei sem jeito e envergonhada e ainda tentei salvar a "pátria", o cara que esquentava sua pamonha me deu a idéia de jogar água em cima da massa que já cozinhava, mas nem assim houve a liga necessária. Sérgio (o guia) havia trazido umas bananas, mas não advinhei que era para por no cuscuz, porém comemos toda a farofa. A fome, com certeza, é uma grande aliada, sei que não estava bom, afinal meu amigo me disse: - "Kátia da próxima vez eu faço o cuscuz" rsrsrs. "Massa" nisso tudo é que apesar da minha falta de jeito em fazer trilha, ele diz da "próxima vez"... e por certo haverá uma próxima vez.... E Sérgio prometo que levo a tapioca rsrsrs
Sempre fiz cuscuz e todas às vezes saiu "comível", mas aqui não trouxe a tapioca e com este fubá tabajara é necessário dar liga na massa, embora Ivetirina faz sem. Acredito que molhei na proporção que molho a massa com a tapioca, então tivemos que comer farofa de fubá... (rsrs) Fiquei sem jeito e envergonhada e ainda tentei salvar a "pátria", o cara que esquentava sua pamonha me deu a idéia de jogar água em cima da massa que já cozinhava, mas nem assim houve a liga necessária. Sérgio (o guia) havia trazido umas bananas, mas não advinhei que era para por no cuscuz, porém comemos toda a farofa. A fome, com certeza, é uma grande aliada, sei que não estava bom, afinal meu amigo me disse: - "Kátia da próxima vez eu faço o cuscuz" rsrsrs. "Massa" nisso tudo é que apesar da minha falta de jeito em fazer trilha, ele diz da "próxima vez"... e por certo haverá uma próxima vez.... E Sérgio prometo que levo a tapioca rsrsrs
Chegamos a casa de Sr. Wilson, pernoitaremos aqui hoje, acredito que não seja 10 horas ainda, aqui quase ninguém usa relógio. A neblina persiste, mas pensando bem ela tem sido forte aliada, com todo cansaço se tivesse sol eu já estaria morta rsrsrs. Agora 8 horas e 27 minutos me surpreendo com o horário, devo ter levantado as 5 achando que já era sete horas. A tranquilidade daqui não há como descrever. Escuto o canto do pássaro preto, ele está bem próximo na copa de uma árvore, o pensamento vai longe e lembro com saudade de meu avó João Franco que tinha um desses pássaros em casa e do qual ele cuidava com todo carinho, embora sempre pensei que pássaro tem que estar solto na natureza.
Como poderia descrever o som deste momento. A água desce... corre solta pelas pedras...há um lago simplesmente LINDO, gostaria de poder me jogar sem medo, me atirar em suas águas, mas apenas delicio com meu olhar... Sérgio (o guia) foi até lá e fico daqui apreciando o seu banho... A vontade é grande, mas infelizmente o meu medo neste momento é maior e, devido a chuva as pedras estão muito escorregadias, então todo cuidado aqui é pouco e para atravessar o rio precisei usar meu 5º membro “a bunda”. E não só aqui que ele é necessário, logo na descida do paredão tive que ouvir e seguir o conselho do guia e aí aprendi o que era e, a importância do 5º membro por aqui.
Interessante lembrar que hoje 31 encerra o ano e que anos atrás se alguém dissesse que um dia eu faria esta escolha, não acreditaria. Mas a vida é isso... Processos... etapas... fases das quais vamos vencendo, aprendendo e reaprendendo. Agora neste momento posso afirmar que está sendo o meu melhor reveillon... Olho a unha e vejo que precisa urgentemente pintar... Mas que delícia saber que aqui não preciso de nada disso... Aqui basta que eu seja EU...Tem momento melhor? E este eu que agora aflora neste lugar sagrado tem tanto amor que sinto que palavra nenhuma poderá descrever. A emoção cresce... as lágrimas também querem participar da grande festa que está em meu coração... Apenas agradeço o privilégio de estar aqui, assim sozinha, ou melhor, estou aqui com a pessoa mais importante neste momento, estou comigo mesma e tão preenchida de mim, que me sinto integrar totalmente com tudo que está a minha volta... Eu sou paz, sou Kátia, sou pedra, sou água, sou flor, sou verde, simplesmente EU SOU...
Interessante observar que a temperatura embora baixa não sinto frio, consegui tomar banho na água gelada e até molhar meus imensos cabelos rsrsrs. Agora aqui molhada e apenas de biquíni me dou conta de que sequer bato o queixo, como já aconteceu em outras ocasiões com temperaturas mais altas e, o que me faz crer que realmente o movimento é que é de dentro para fora e, tudo isso que neste momento emana de mim aquece o meu ser.
Sérgio o meu guia e amigo me pede papel e caneta e ele também se inspira neste rio que agora nos encanta com sua beleza...
Aquele lugar fez ele se lembrar de suas conversas com seu avô.
Onde pensa que está a beleza?
No verde de uma árvore?
No sorriso de uma mulher?
Nas cores de uma flor ou nos olhos de quem vê?
Só depois de muitos anos ele entendeu o que aquelas perguntas significavam. (Sérgio Macedo de Jesus)
Que linda! Grito emocionada... tudo aqui é mágico e há um certo encantamento até em minhas palavras... O guia volta e me diz: - é uma orquídea! O pensamento foi longe e o peito deu aquele aperto gostoso... Sou realmente privilegiada em conhecer pessoas especiais. Talvez alguém pergunte, mas o que seria uma pessoa especial? É aquela que lhe traz a tona o que há de melhor em você... É aquela pessoa que lhe faz sorrir com o coração... E neste momento vi que a saudade nem sempre é doída, afinal esta saudade gostosa que agora me enlaça, me faz lembrar de um trio maravilhoso que me fez não só sorrir, mas mesmo sem ter pronunciado uma palavra sequer, os ouvir dizer: - Mas é claro que o sol vai voltar amanhã... Amei estar com vocês, estejam certos, foi o meu melhor presente de natal.
Chegamos da trilha e como fiquei feliz ao ver a casa de Sr. Wilson, embora toda beleza do caminho é indescritível, os 4.7 começam a pesar, principalmente pela falta de preparo e desde de segunda -feira que faço trilha. Fui a Lapa Doce, Morro do Pai Inácio, Cachoeira da Fumaça etc... A trilha feita hoje poderia dizer que subir a Cachoeira da Fumaça duas vezes. Mas estou muito feliz em ter superado mais uma etapa, sei que preciso voltar aqui para poder aproveitar e ver toda beleza do Vale do Pati. Como disse Sérgio que estou vendo o vale superficialmente, mas imagine se superficial já estou tão encantada... Desejei que meus amigos estivessem aqui... Acredito que agora deva ser umas três e meia. Há muito o que olhar, explorar, mas infelizmente ou felizmente (vai saber) neste momento não tenho condição física de andar mais... Porém, não há o que reclamar, queixar, cobrar... Aqui é tanta paz que só estar aqui já é tudo... Agora estou em “minha” cama, no quarto temos mais 4 leitos, por enquanto sou a única ocupante. Na casa de Sr. João aluga colchão, e lá temos que fazer nossa comida. Aqui, temos jantar, dormida e café da manhã e ,para segurar o apetite que cresce, comi um pão tão gostoso feito pela dona da casa. Um pão “massudo”, não desses que só em pegar já faz CREC CRAC porque não tem nada dentro. E por falar em pão vou comer mais um rsrsrs Isso aqui é bom demais!
Eu e Sérgio passamos um bom tempo cantarolando grandes cantores. da nossa música popular. Fico encantada com as músicas de Raul Seixas que Sérgio me apresenta e descubro que eu não conhecia quase nada de Raul. Deixo registrado aqui alguns trechos de sua obra.
“Pra cada pecado, sempre existe um perdão, não tem certo nem errado, todo mundo tem razão é que o ponto de vista é que é o ponto da questão”.
“Nem de vitórias, nem de derrotas eu falei, tudo o que quero é ver o povo cantar, pra consciência é que não posso mentir, pois o meu travesseiro não me deixa dormir”.
“Vai...vai e diz ao mundo que você está certo, você aprendeu tudo enquanto estava mudo, agora é necessário cantar Rock e discutir os teoremas do xadrez”
“Nunca se vence uma guerra lutando sozinho, cê sabe que a gente precisa entrar em contato com toda esta força contida que vive guardada. O eco das suas palavras não repercutem em nada, é sempre mais fácil achar que a culpa é do outro, evita o aperto de mão do possível aliado. Convence as paredes do quarto e dorme tranquilo, sabendo do fundo do peito que não era nada daquilo. Coragem...coragem se o que você quer é aquilo que pensa e faz. Coragem...coragem eu sei que você pode mais”.
Estou aqui com Sérgio e descubro que ele é um grande contador de histórias, me delicio com suas palavras. De repente aparece um pica-pau e fico observando ele escalar a árvore... O som aqui é maravilhoso é a melhor e maior orquestra que este planeta tem – a orquestra chamada natureza – E as palavras de Sérgio são embaladas por uma das mais belas sinfonias e neste final de tarde agradeço por poder vivenciar tudo isto.
Que surpreendente é uma abelha. Paro um instante fico observando a sua dança... Ultimamente ela tem estado muito presente em minha vida e sorrio um sorriso de mel...
Bebo água e que maravilha, a água daqui é saborosa, justamente porque não tem sabor rsrs Não sei se o sabor vem da fonte, desta pequena nascente em que posso simplesmente fazer a mão em concha e me deliciar, ou se o sabor vem simplesmente da minha alma que está em festa por estar aqui no Vale do Pati.
Interessante observar que a copa da árvore aonde pousou o pássaro preto, é ponto para outros pássaros, uma hora atrás havia um sabiá e agora há um outro que não sei dizer qual é, mas seu canto é maravilhoso e aqui sentada na calçada da casa aprecio encantada a sua apresentação.
A tarde se foi tão gostosa quanto chegou, Sérgio sugeriu que eu fosse descansar para que pudesse ver acordada 2010 partir a galope... Embora cansada e com os músculos do corpo muito dolorido o sono não vem, mas a cama é gostosa e o cobertor aconchegante...Aos poucos observo os pássaros emudecer e os grilos começarem o seu show. Faço uma retrospectiva de minha vida e a felicidade fica ainda maior em ver quanto privilegiada sou de estar aqui... Sérgio me chama e fico sem saber se dormir de fato rsrsrs. Aqui estou em êxtase...
Vejo um serra-pau, há quantos anos não vejo este besouro, fico observando sua trajetória e seu corpo brilha com o reflexo da luz, na frente da casa temos uma lâmpada, aqui eles usam energia solar e como achei que não teríamos energia por aqui não trouxe o carregador da máquina, desta forma temos que economizar nos “clicks” e como hoje a bateria já sinalizou cansaço deixamos o que resta da mesma para amanhã, dia que decidir voltar, havia feito a previsão de mais um dia, porém o corpo não havia sido preparado, sendo assim, resolvi passar o domingo em Palmeiras, afinal segunda-feira já tenho que estar no outro planeta rsrsrs Aiii grito e assustada percebo que o serra-pau não sei como, foi parar em meu pescoço, mas até isso estar certo, ele me trouxe de volta ao Pati, pois só foi falar em outro planeta que a cabeça por um instante já quis se afastar... Loucura seria sair disso aqui e abandonar, mesmo por uns instantes a paz que sinto só em estar no Vale...
Fomos jantar e fico maravilhada com o cortado de abóbora, posso dizer que foi o melhor cortado que comi até hoje...Na mesa nada de peru... tortas... Temos feijoada, feijão, batata fritas, um lombo delicioso, macarrão, arroz, uma salada verde e saborosa. Na mesa mais sete pessoas além de nós dois, eu e meu amigo Sérgio. São três casais... Eles brincam, tagarelam, se integram, um dos casais faz parte de um outro grupo que acabou de jantar. Apenas escuto, observo, há uma PAZ tão grande em mim que não sinto vontade de falar nada... Vou saindo da mesa e Nara me informa que ainda tem a sobremesa, volto e aprecio o mousse de maracujá e nem preciso dizer o quanto estava delicioso... Passo pela cozinha para agradecer aquelas pessoas pelo maravilhoso jantar. Agora 8 horas da noite, engraçado o tempo aqui parece não passar.
Observo um grupo conversar e descubro até um pouco surpresa que eles não vieram em busca de paz, desta coisa espiritual, são corredores e estão aqui como se fosse uma espécie de treinamento. Uma das mulheres comenta que tomou um grande copo de suco de laranja, um dos homens informa que suco desta fruta engorda, ela diz ter esperado a colega para dividir, mas como não apareceu acabou tomando sozinha e surpresa escuto o sujeito dizer: Por que não jogou fora? Fiquei incomodada com seu comentário, afinal não suporto jogar comida fora, para mim o alimento é sagrado. Enfim como disse Raul Seixas - “Pra cada pecado, sempre existe um perdão, não tem certo nem errado, todo mundo tem razão é que o ponto de vista é que é o ponto da questão”.
Os vaga lumes dançam, apesar da claridade devido a lâmpada acesa posso observá-los bailando. Ontem, porém na casa de Sr. João eu podia ver muito mais, lá não havia claridade no terreiro e fiquei por um longo tempo os vendo piscar... bailar...
Resolvemos tomar uma cerveja é a nossa champanhe - disse a Sergio e, é muito engraçado achar que ela está deliciosa, afinal está praticamente natural, não sei se a questão é do vale ou da transformação que está em mim, sei apenas que tudo aqui é maravilhoso... Lembro de você, por certo, aquele whisky que partilhamos cairia muito bem agora...
O gato fica em alerta e um dos guias vai chamar Sr. Wilson. Alguém grita é uma cobra, mas o dono da casa já está a postos com um pau na mão. Sérgio corre em socorro da cobra, mas Sr. Wilson já havia deflagrado o golpe em sua cabeça... Meu amigo ainda implora, mas o homem sem dó e nem piedade acaba de esmagar sua cabeça... Sérgio fica inconformado, dois homens do grupo param para conversar conosco e tentam mostrar que não adiantava falar em favor da cobra e que seu Wilson a via como um animal peçonhento que trazia risco de morte e, sendo assim, ele tinha que defender o seu espaço. Mas segundo meu amigo ela não era uma cobra venenosa e ele se dispôs a pegá-la e soltá-la no mato longe da moradia dele. Conversamos e comento que nem fui ao Cochó onde fica a terras de meu pai, justamente por causa de cobra e segundo meu cunhado já havia pego dezesseis... Bem os rapazes saíram e Sergio muito sério me diz: Não sei como irei lhe dizer isso e como você irá reagir, mas preciso falar. Fico até um pouco assustada, quando ele me diz ainda mais sério: - Você não pode mais ficar em cima do muro! Fico sem entender e pergunto a ele: - Como assim? Ou você ama a natureza e a defende levantando a bandeira ou você não conseguirá se integrar nela... Que você fique longe das cobras, tem que realmente ficar, e não basta você não matar, você precisa defendê-las, se elas existem tem uma razão muito forte no planeta, a questão não é só você e a sua atitude em si, mas o que você faz para que isso possa mudar... O que você faz para que seu cunhado também se conscientize que não podemos matá-las. Kátia a cobra é o bicho mais injustiçados... Pense no que eu disse e veja que não dá mais para você ficar em cima do muro... Sérgio me deixou sem palavras...
Percebo que sou a única solitária no Pati, todos os outros que estão aqui estão com seus pares, mas o fato de estar "solta" não me incomoda, talvez este seja o momento que apesar de estar só, estou totalmente acompanhada... e é maravilhoso estar comigo, me descubro INTEIRA...
Bem vou dormir, ainda faltam 15 minutos para as 23 horas, mas todos se recolheram e estou aqui sentada na porta do quarto que apesar das 5 camas só uma será ocupada por mim. Virarei o ano apenas comigo e, acredito que, amanhã teremos uma nova Kátia... uma nova mulher... a Kátia da Nova Energia e me digo sorrindo e me abraço na certeza que a Kátia/flor enfim floresce – Feliz Ano Novo!
"Tudo vale a pena se a alma não é pequena"!Viver, eis nossa razão.
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