Nas portas de Santo Amaro
elas estão sempre belas. Banho tomado, corpo cheiroso, cabelo arrumado e o
olhar... Ah o olhar sempre perdido... Quando passo por elas, vejo meu olhar
também se perder... Vai longe na quilometragem e no tempo já passado e que
ainda está tão vivo em mim. Passo por uma, às vezes duas e hoje havia três numa
conversa animada...
Olhei sorrir, embora
parecesse ser para elas, meu sorriso ganhou velocidade e foi lá na minha
pequenina cidade, e pude as ver sentadas, arrumadas e cheirosas em suas portas
vendo a vida passar ou quem sabe buscasse estagnar o tempo na lembrança feliz
do que um dia puderam ser...
Tropeço acordo... Volto
para o agora, dobro a esquina e lá está uma outra sentada na porta vendo o
tempo partir... Diminuo meus passos e fico a observar seus traços... Há marcas
profundas na pele emudecida... O olhar estar longe... há uma saudade imensa no
ar... Talvez do amado que geralmente sempre vai primeiro na viagem
desconhecida, mas tão exata para todos nós... Todavia que evitamos falar,
porque temos medo de encarar a morte... E talvez seja isso que elas estão a
fazer, passo a passo enfrentando o que não pode evitar e o que nem pode prever...
Recordo com saudade ao observar
essas senhoras. As minhas avós, como elas fim de tarde, era certo, sentar a
porta e deixar sem pressa o tempo passar... Talvez fujam da solidão de seus
lares e na porta, um passa sorrir, outro com mais tempo lhes dar um “dedo de
prosa” e quando não, ficam vendo o povo que passa...
Interessante perceber
que embora Palmeiras que fica localizada na região da Chapada Diamantina tem em
si forte afinidade com Santo Amaro que está situada no Recôncavo Baiano. E hoje
a observar e passar por minhas avós representadas por estas senhoras
santamarense meu coração pulsou “PALSAMEIRENSE!”