sexta-feira, 4 de novembro de 2011

O poste!

Achei tão interessante um pedacinho da história de vida de uma grande amiga... Ela nem imagina o quanto fiquei emocionada com o que me relatou. Talvez fique surpresa ao ler o que agora escrevo. Enquanto estava em sua casa e ela se justificava a grande quantidade de bichinhos de luz pelo chão, por não ter havido tempo de varrer a casa etc. e tal, lembrou que não poderia reclamar, pois quando era ainda uma menina a sua casa não possuía luz elétrica, época em que aprendia a ler e escrever, então toda noite ficava desejando folhear os livros e paquerar as letras. Todavia, a simples chama do “fifó” (um pequeno candeeiro) não lhe permitia...
É interessante observar que quando a criança começa a descortinar este mundo alfabético há uma enorme curiosidade e uma vontade gigante de aprender e conhecer o novo. E aqui me pergunto: onde será que nós professores erramos? Afinal estas mesmas letras são rejeitadas e desprezadas ao longo de suas vidas? Hoje temos tão poucos leitores e sei que toda criança quando começa aprender a ler é como se tivesse descobrindo um mundo cheio de magia...
Mas, voltando às lembranças de minha amiga... E ela me dizia que passou a desejar uma casa que pudesse ter ao seu lado um poste, assim poderia sentar na calçada para enamorar os seus livros... Seu desejo foi cumprido e quando se mudou de um bairro para outro, sua casa tinha o poste tão desejado. Então, agora, como poderia ela reclamar dos bichinhos atraídos por sua luz?...
Não sei se pelo fato de amar tanto as letras e ter os livros sempre como meus companheiros fiquei muito emocionada com sua história e naquele  momento preferi nada dizer. Na verdade, a minha sensibilidade, como disse Zeca Baleiro, “ando tão a flor da pele que qualquer beijo de novela me faz chorar...” Então eu ali com os olhos nublados não conseguia, na verdade,  falar...
E hoje essa minha amiga tem duas graduações, uma pós e tantos outros cursos. Hoje esta menina que amava tanto as letras se fez PROFESSORA e mesmo quando sua casa passou a ter um poste e mesmo quando teve o prazer de ter em sua casa luz elétrica, depois de formada por não ser de família “tradicional” foi mandada para lecionar na roça. E algo que tinha tudo para desiludi-la, foi instrumento para a grande virada de mesa que ela daria anos depois, pois lá aprendeu sozinha a trabalhar com os números... De inicio para preencher o tempo, mas com o tempo foi se apaixonando pela matemática e veja que engraçado, acabou voltando para a cidade porque não havia ninguém que pudesse substituir aquele velho professor de aritmética. E ela sem saber que todos aqueles anos de estudo a estava  preparando para o tal cargo.
Hoje formada também em física, um exemplo de vida e de mulher e feliz vejo a sua única filha com apenas 25 anos terminando a segunda graduação, fala dois idiomas além do nosso velho português... Ela uma simples filha de lavadeira foi muito mais que os filhos das famílias tradicionais e nem sei se ela se dar conta do seu grande feito...
De um desejo de um poste ela transformou sua vida numa grande LUZ!

3 comentários:

  1. Que Lindo Kátia.. Não sabia dessa história..
    Pró Claudinha tenho orgulho de ser sua aluna...
    Te Amo Minha Pró...

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  2. Nem eu sabia dessa história... Fico feliz pela homenagem Kátia.

    Beijo grande!

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