sábado, 2 de fevereiro de 2013

Jaca...



Euuuuu faleiiiiiiiiiiiiiiiiii Cheguei!!!
Óiii a Jaca!
Jaca dura e jaca mole!
Qualidade JP
Eu cheguei!
Quem quer? Tá na hora de saborear o que é gostoso!
Ói a Jaca!

De repente lembro de Gabrielle Astier e penso se ela estivesse aqui, por certo, já haveria corrido a porta para comprar a jaca. Olho em volta e vejo a cama cheia de roupa para passar, a mala aberta a espera das peças limpas, cheirosas e "gomadas" e ali aquele grito me tentando a largar tudo para ir comprar a jaca. Pensei! Como poderia desperdiçar a oportunidade de saborear tão gostoso fruto? Desligo o ferro e corro a porta. E lá está ele com seu carrinho de mão, sol a pino na cara, mas gritando a plenos pulmões: Eu faleiiiii Jaca!
- Moço eu quero jaca, mas não uma jaca inteira, apenas um pedaço dela. Digo delicadamente para ele.
Ele prontamente já pega uma na mão e já com a peixeira (grande faca) a punho já lhe difere um golpe certeiro e a parte em duas. Certo senhora, o pedaço é dois reais.
Aprovo o valor e entro para pegar o dinheiro. Volto e fico ali observando todo o seu movimento enquanto prepara o fruto para me entregar. A boca saliva instantaneamente ao ver a maciez e coloração amarela brotar do verde da casca grossa que a cobre. É tão mágico observar pequenos detalhes, de repente é como se uma sinfonia tocasse de forma invisível para nós, pois vejo as suas mãos bailando com a faca, a jaca se abrindo numa entrega sem a menor resistência, quase que num gozo de saber que enfim estará cumprida a sua missão de alimentar alguém... O rapaz tira delicadamente o miolo, pega um outro saco e de dentro tira o papel embrulho, aquele papel pardo, corta um pedaço e passa para lá e para cá no fruto para lhe tirar o visgo... Ao terminar com um sorriso largo embora reflita a marca forte da pobreza em seus cariados dentes, todavia o brilho do olhar resplandece muito mais ao me entregar tão belo fruto e novo sorriso surge ao receber suas moedas e gentilmente me diz: Taí aí um "filezão!" Sorrio de volta e nesta hora vejo o quanto associamos as coisas com o que gostamos... E embora não coma carne lhe respondo: - Verdade é  um filézão. Muito obrigada!
Entro e penso em deixar para saborear o fruto depois de terminar minhas tarefas, mas o cheiro... Ah o cheiro tomou toda a minha casa, e aquele perfume adocicado de flor invade ainda mais as minhas narinas e não resisto... Pego um prato, sento e delicadamente vou soltando os gomos enquanto a boca saliva, o coração aplaude e minha alma sorrir...